Viciante, Virtuoso e Violento!
O ritmo frenético das grandes cidades. O caos do trânsito. A poluição
sonora e atmosférica. As relações cada dia mais breves e fugidias. O crime e os
noticiários sensacionalistas. A Modus Operandi representa e traduz a vida nas
grandes metrópoles, e o melhor: transforma em arte. Mas não espere uma arte de
fácil fruição, é antes de tudo uma arte complexa, anárquica, incômoda.
Vício, Virtude, Violência não é
apenas um título. Trata-se de um conceito que permeia todo o EP. Na primeira
faixa, M.A.L., uma gaita de blues
antigo e melancólico passeia sobre o reator industrial acionado pela banda. A
letra minimalista vem a bordo dos vocais ligeiros e raivosos de Henrique
Letárgico. A poesia concreta da segunda música, U.M.A., nos chega através da inconfundível voz de David Vertigo,
enquanto um berimbau parece animar uma roda de capoeira no meio de uma
metalúrgica em plena atividade. Barbárie,
a terceira faixa, teve a letra concebida na Estação da Lapa, antes de sua
reforma. Com uma base pulsante, somos levados a perambular pelo submundo de
Salvador. Ad Baculum traz o vocal do
percussionista Marcos Sampaio; letra com trechos extraídos da Carteira de
Trabalho, e uma bateria meio tribal, no centro de uma parafernália enlouquecida.
A quinta faixa, Psicografia, contou
com a ajuda sobrenatural de Lou Reed, que, segundo a lenda, teria ditado a
letra para os integrantes da banda numa espécie de transe coletivo. Holocausto, a última faixa, remete aos
horrores da Segunda Guerra, enquanto soa, também, assustadoramente atual. E
ainda possui um final hipnótico e angustiante.
Vício, Virtude, Violência traz
na capa o trabalho do artista plástico Devarnier Hembadoom, e em seu conteúdo,
o conhecido potencial sonoro da Modus
Operandi, uma banda que se define como rock industrial, mas que não se
acomoda dentro do rótulo. E da inquietação criativa do quarteto surge a marca
registrada da banda: o experimentalismo. Desde o início, há vintes anos, a banda
apresenta suas referências (industrial, gótico, poesia concreta, atonalismo) de
forma desconstruída, diluída e processada, sempre em busca de uma personalidade
própria, de um som autêntico. E mais uma vez obteve êxito. Vício, Virtude, Violência é um trabalho com o selo Modus Operandi
de qualidade.
Marcus Borgón