quarta-feira, abril 11, 2018

Resenha "...Vício, Virtude, Violência..." por Antônio Barbieri.

O multi homem Antônio Celso Barbieri escreveu um texto sobre nosso disco, o qual só podemos classificar como PERFEITO (devido ao entendimento de nosso trabalho e a identificação histórica e referencial). Agradecemos pelas suas palavras e nos orgulhamos muito de ter alguém tão gabaritado avaliando (e aprovando) nosso esforço... OBRIGADO:

Barbieri Indica: Modus Operandi - Vício, Virtude, Violência (Dezembro de 2017)
Escutem aqui: https://www.podsnack.com/Barbieri/avunaphu
Hoje em dia, quando ouvimos alguma banda de rock extremo incorporando no seu trabalho sons de máquinas (máquinas de furar, serras elétricas, percussões batendo martelos em pedaços de metal, etc), inevitavelmente teceremos comparações com bandas como Ministry, Die Krupps ou Young Gods (só para citar algumas), portanto quando ouvi este EP da banda Modus Operandi chamado Vício, Virtude, Violência imediatamente notei as suas influências. No entanto, como conhecedor do trabalho da antiga banda alemã Einstürzende Neubauten que desde o começo dos anos 80 vem fazendo música, usando instrumentos construídos por eles mesmos, fazendo ritmos usando pedaços de metal retirados de depósitos de ferro velho, assim como usando sons de máquinas, sei que as influências do pessoal do Modus Operandi vão bem mais longe. Mesmo porque no mundo da música clássica o uso de máquinas e a “preparação ou modificação” de instrumentos musicais já vinha sendo feita à muito tempo! Se tiverem curiosidade chequem o trabalho de John Cage e György Ligeti.
John Cage foi um compositor norte americano e teorista musical, um pioneiro sobre o uso da música indeterminada, da música eletroacústica e do uso de instrumentos musicais tradicionais mexidos ou com afinações estranhas. Cage foi, depois da Segunda Guerra Mundial, uma das figuras líderes do avant-garde na música moderna. Os críticos especializados o consideram como sendo o mais influêncial compositor do século 20.
György Ligeti foi um compositor de música clássica contemporânea, descrito como sendo um dos mais importantes compositores de música avant-garde da última metade do século 20. Ele também foi considerado um dos mais criativos e influenciais músicos entre as figuras mais progressistas dos seu tempo.
Desculpem-me a insistência na parte didática dos meus textos, mas, aqui no caso da banda Modus Operandi, fica claro que este projeto carrega na sua alma, de forma consciente ou não, a tradição destas bandas, artistas, estilos e porque não dizer "escolas".
Mas, vamos conferir o álbum Vício, Virtude, Violência:
1. M.A.L. - Logo na primeira faixa a banda prepara de forma minimalística o ouvinte, para o clima urbano e pós apocalíptico que permeará todo o álbum. Esta música trás um solo de gaita estranho trazendo uma sensação de deslocamento em relação ao todo musical. Pude até imaginar um mendigo maltrapilho, sem esperança, tocando sem saber, seu último solo de gaita em meio à uma cena de total devastação nuclear!
2. U.M.A. - Esta faixa agradou-me muito. O teclado faz a cama para o ritmo da bateria seguido de perto pelo baixo e de forma hipnótica nos prepara para a poesia falada com uma letra irretocável. Cabe lembrar que não estamos falando aqui de hap. Em todo este trabalho a coisa esta mesmo mais para poesia interpretada com emoção e sabor de intervenção.
3. Barbárie - Aqui temos um comentário direto sobre a realidade urbana violenta vivida no Brasil de hoje. O arranjo instrumental respeita perfeitamente a proposta musical do grupo onde o destaque mesmo, fica por conta da letra poderosa um verdadeiro turismo macabro pelas cidades brasileiras.
4. Ad Baculum - "Na dúvida o instinto define a culpa, o castigo e o crime!" Outra faixa inteligente onde a música obedientemente se serve ao poder do trabalho vocal, ao poder da letra.
5. Psicografia - "A guerra está na sua cabeça! O inimigo está em outro lugar!". Perfeito!
6. Holocausto - Com toda esta devastação e mortes na Síria e outros países árabes, talvez esta música apenas deveria ser intitulada "Guerra". Esta música ritmicamente me fez lembrar um exército em marcha, como um tanque de guerra destruindo tudo por onde passa. Esta faixa é a mais longa e já aviso que ela não é do tipo fácil de ser ouvida pois são quase 14 minutos dos quais aproximadamente os 70% finais são compostos por um "solo" de máquina de furar ou serra elétrica, cortando ou atritando sobre uma superfície metálica. Podemos então dizer que este álbum tem um final "cáustico", modelo cadeira de dentista. 
Conclusão, achei este álbum corajoso, criativo e interessante. Pena que é apenas um EP pois gostaria de ouvir mais! Parabéns!
Conforme pude verificar assistindo no Youtube o show do Modus Operandi ao vivo no Teatro Gamboa Nova em Salvador acontecido no dia 21 de fevereiro de 2018. a banda consegue executar muito bem ao vivo este trabalho! Digo isto porque, para este estilo de arte, trata-se de uma tarefa nem sempre muito fácil de ser executada ao vivo. Para escutarem este álbum cliquem no link abaixo:
Escutem aqui: https://www.podsnack.com/Barbieri/avunaphu